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Mourão

Na velha fortaleza medieval são ainda visíveis vestígios de todos estes tempos. Desde as muralhas dionisinas até às reconstruções da restauração, que as obras dos anos quarenta deste século quase reinventavam outro castelo.

O concelho de Mourão mergulha na grande mudança que se sucederá à construção da Barragem do Alqueva. Que fará da margem esquerda outra região. De menos terra, mas mais Guadiana. O grande rio do Sul encher-se-à e ficará mar. No entanto, Mourão, vila e sede de concelho, manterá sempre as suas áleas de laranjeiras irrompendo de rua em rua para a praça. Desembocarão sempre os nossos passos naquele jardim sempre frondoso de árvores. E no coreto. Quantas memórias e quantos instantes não guardará esse monumento à música, tão frágil e tão simples cada vez mais raro nas nossas vilas e cidades.

Parte do concelho será referência. Como a Aldeia da Luz e os seus caminhos ao Guadiana. Que ainda é aqui rio. Os moinhos, as margens e os vales de verde e montado. O branco da aldeia e o bater cadenciado do relógio na torre da igreja. Da Senhora da Luz, como que invocando o divino para que nunca falte o pôr-do-sol único que esta zona tem.

Naturalmente, o Castelo da Lousa é outro dos monumentos que será memória. Bem perto da Luz. Que também hoje o é. Estrutura fortificada, villa, castellum. Do tempo dos romanos sabemo-lo. Talvez do século I. Serviria de defesa de um caminho das muitas veredas que o Guadiana tem. Acima de tudo é um extraordinário rendilhado de xisto. Dois mil anos resistindo. E afinal, é apenas um edifício construído com frágeis taliscas. Rasgado também na rocha.

Do mesmo xisto que em Mourão, na pedreira, se vai talhando para utilizar em pisos e socos. Da mesma rocha que veste as muralhas do castelo. O mesmo que fez parte do dote de D.Brites, filha do rei Sábio Afonso X quando esta casou com AfonsoIII. Que Mourão tem um passado rico na defesa destas fronteiras feita de muitos conflitos, mas igualmente nas histórias de reconciliação entre os dois países ibéricos. Um dos principais nós da rede viária que cruzava a região que desde os alvores da nacionalidade pertenceu ao termo de Moura e que só os novos tempos puseram no distrito de Évora.

Mas estar em Mourão obriga a visitar a Matriz e a Igreja da Misericórdia. Uma e outra símbolos desta gente. De correr as ruas de branco e cal. De reparar na diversidade das chaminés tradicionais. De pequenos pormenores arquitectónicos nas janelas e portadas das casas. Mourão terra de fronteira e Guadiana. De calores fartos e festas ricas de cores. E vinhos.

A Granja é conhecida pelos vinhos da sua Adega Cooperativa. De vinhos afamados por muitos prémios internacionais. Os brancos e os tintos, que a arte de fazer vinho vem de quando as talhas da altura de quase dois homens enchiam largas adegas. Mas parar na Granja para provar os vinhos pode ser motivo para estar mais um pouco e, porque não, para além do passo de passeio pela aldeia, a visita à igreja, perceber a forma de gestão dos baldios da freguesia. Pormenores.

O concelho estende-se desde a ribeira de Cuncos ao Ardila. Terras de montado e vales frescos que o concelho é ainda atravessado pelo Alcarreche. As características naturais do concelho fazem dele uma das zonas de invernada mais importantes no nosso país de uma espécie rara de ave: o grou. Entre Mourão e moura chegam a juntar-se mais de dois mil exemplares. Assim como de abetardas, uma das maiores aves da Europa.

Mourão encostado à fronteira com a Espanha, assenta num certo exotismo de passado e futuro, que presente é todos os dias. Dentro em breve tudo vai mudar neste lado da margem esquerda e quando por aqui passa o cidadão comum, só sabe que dentro em breve o concelho de Mourão não vai ser o mesmo. Aproveitemos.

Miguel Rego

Última actualização
Domingo, 8 de Agosto de 2010
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